Minha
intuição sempre me acompanha em todos os momentos. A primeira vez que resolvi
não dar muita atenção à ela, aconteceu em uma noite em que saí para ir à
escola, onde lecionava. Percebi que estava ventando e no momento em que saí
pela porta, ela se fechou e só poderia ser aberta pelo lado de dentro. Como já
estava atrasada, resolvi ir para a escola sem chave. Pensei comigo que não
havia problema algum. Quando chegasse, era só tocar a campainha que meus filhos
iriam abrir. Acabado as aulas, voltei para casa e toquei a campainha várias
vezes e meus filhos, na época com nove e doze anos, não desceram para abrir a
porta, para que eu pudesse entrar. Insisti mais vezes e nada. Fiquei sem saber
o que fazer e imaginando mil coisas que poderia ter acontecido com meus filhos
e eu não conseguia saber o que pudesse ser. Lembrei-me de uma amiga que morava
perto da minha casa e fui até lá. Mais do que depressa, ela entrou no carro
dela e me disse que logo a situação estaria resolvida e que não havia motivos
para pânico. Percorremos vários locais onde sabíamos que havia um chaveiro e
não encontramos nenhum disponível àquela hora da noite. Então lembramos
dos bombeiros, que ficava meia quadra da minha casa. Pedimos ajuda e eles foram
até lá. Percebemos que a sacada estava aberta e foi por lá que eles entraram,
usando uma escada. Enquanto um bombeiro percorria a casa, o outro desceu para
abrir a porta. Minha amiga correu escada acima e eu fui atrás, mal conseguindo
que minhas pernas me obedecessem. O primeiro bombeiro encontrou as crianças na
minha cama, embaixo das cobertas. Pelo chão, haviam várias caixas vazias do
sonífero que eu costuma tomar. A primeira impressão que os bombeiros tiveram,
era de que as crianças haviam ingerido uma quantidade enorme de soníferos. Juntaram
as caixas do chão e me mostraram. Eu disse que as crianças juntavam as caixas
para brincar e sabiam que não poderiam ingerir nenhum medicamento que eu
estivesse tomando. Ergueram as cobertas, e lá estavam os dois, abraçadinhos,
dormindo. Chamamos por eles e eles acordaram sonolentos. Eu sabia que eles não
haviam tomado o medicamento e que as caixas estavam vazias, porque eu já havia
tomado tudo. Mesmo assim, os bombeiros queriam que eu chamasse uma ambulância e
levasse as crianças para o hospital. Depois de acordados, eles disseram que
dormiram abraçadinhos embaixo das cobertas por que estava muito frio. Não
apresentavam nenhum sintoma de que tivessem ingerido o tal medicamento.
Convencidos de que estava tudo bem, os bombeiros foram embora e eu respirei aliviada.
Minha filha sempre foi muito responsável e cuidava do irmão como se fosse uma
pessoa adulta. Mas depois dessa noite que parecia não ter fim, voltei a
acreditar na minha intuição, sempre que eu sentisse alguma sensação estranha e
não soubesse o seu significado.
Débora
Benvenuti
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