A Esperança estava de partida. Habitara durante muito tempo um Coração e
por mais que insistisse, a cada dia percebia que o Coração não mais a ouvia.
Não gostava de despedidas, por isso deixou o Coração ao amanhecer, enquanto ele
ainda dormia. Sabia que estava indo ao encontro do desconhecido, pois estava
tão cansada, que qualquer lugar seria melhor de morar, do que aquele velho
Coração, que nem sequer mais batia direito e esse descompasso fazia a Esperança
ficar desorientada. Às vezes ele batia tão rápido, que a Esperança pensava que
ele havia encontrado o que buscara durante toda a vida. Depois, nada mais
acontecia, e o Coração então adormecia profundamente, num sono cheio de
pesadelos.
A Esperança caminhou durante muito tempo, carregando consigo todas as
lembranças dos bons momentos em que habitara o Coração. Cansada demais com o
fardo dessas lembranças, encontrou pelo caminho o Tempo, que estava sentado à
beira de um lago, de águas muito límpidas e tranqüilas. Percebendo a Esperança
se aproximar, notou o pesado fardo que ela carregava. Convidou-a descansar por
alguns momentos e ela assim o fez.
O Tempo, conhecedor de todos os males e Senhor de toda a sabedoria, quis
conhecer o que continha o fardo que a Esperança carregava. Ela então contou o
quanto estava decepcionada com o Coração em que habitava. Contou-lhe os sonhos
e os pesadelos que habitavam aquele coração e disse ao Tempo que desistira de
fazê-lo acreditar em alguma coisa. O Tempo ouviu com toda a paciência que só
ele possuía, os relatos da Esperança e quando ela terminou de falar, disse à
ela que voltasse a morar no velho coração, porque era nesse exato momento de
sua vida, que o Coração mais precisava de toda a esperança para continuar a
viver.
Débora Benvenuti
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